O conceito de GIAHS/SIPAM (Globally Important Agricultural Heritage Systems/Sítios Importantes do Património Agrícola Mundial) é uma forma distinta e mais complexa que a convencional classificação de áreas ou paisagem protegida. Os sítios GIAHS/SIPAM são sistemas agrícolas vivos, envolvendo as comunidades humanas numa relação intrincada com o território, com a paisagem cultural e agrícola, bem como com o ambiente biofísico e social.
Estes sistemas de património agrícola existem em todo o mundo e fornecem bens, serviços e subsistência para milhões de pequenos agricultores. Infelizmente encontram-se ameaçados por diversos fatores incluindo as alterações climáticas e acrescente afluência de recursos naturais. Enfrentam também dificuldades advindas da migração devido à baixa viabilidade económica, que resulta no abandono das práticas agrícolas tradicionais e na consequente perca de biodiversidade. São ricos em biodiversidade agrícola e em vida selvagem e são importantes fontes de conhecimento autóctone e de culturas ancestrais. A sua diversidade cultural, ecológica e agrícola ainda é evidente em muitas partes do mundo, mantidas como sistemas únicos de agricultura. Assim, contribuem para a base da inovação agrícola e tecnológica do futuro.
O objetivo geral do Programa GIAHS/SIPAM é identificar e salvaguardar sistemas agrícolas mundiais e suas paisagens, biodiversidade agrícola e sistemas de conhecimento, estabelecendo um programa a longo prazo para apoiar estes sistemas e melhorar os benefícios globais, nacionais e locais derivados da conservação dinâmica, gestão sustentável e viabilidade fortalecida.
O Barroso é uma composição paisagística e natural do Norte de Portugal, integrando parte do Parque Nacional da Peneda Gerês, onde o sistema agrário existente é fortemente condicionado pelas características edafo-climáticas, predominando a pequena propriedade e sendo a criação de gado bovino, ovino e caprino em pastoreio preponderantes na economia agrícola da região, bem como a criação de porcos que dá um contributo fundamental para as economias domésticas e desempenha uma função social relevante.
É um sistema que se manteve, praticamente até aos dias de hoje, como uma economia rural de subsistência, típica das zonas de montanha, com uma baixa intensidade na utilização de fatores de produção, com muito poucos excedentes e em que o nível de consumo das populações é relativamente inferior a outras regiões do país.
As propriedades agrícolas são geralmente de pequena dimensão média e as condições agro-climáticas promoveram hábitos de exploração coletivos onde existe um esforço comunitário para benefício de cada habitante, estando as relações entre moradores assentes na entreajuda e solidariedade. O isolamento e as dificuldades para grandes produções agrícolas, promoveram modos de vida arcaicos, baseados num forte sentimento de comunidade em cada aldeia, onde a autossuficiência e a solidariedade entre os habitantes são elementos culturais muito próprios.
As áreas florestais são dominadas por carvalhais de Quercus pyrenaica e pinhais de Pinus pinaster, bem como matagais de várias espécies. Em zonas de menor altitude surgem carvalhais de Quercus robur e nas serras mais altas (> 800m), observam-se também pinhais de Pinus nigra e Pinus sylvestris, estes mais adaptados às condições adversas de ventos e neves mais frequentes. Junto às linhas de água, conservam-se bosques ripícolas de amieiros (Alnus glutinosa), freixos (Fraxinus angustifolia), vidoeiros (Betula celtiberica) e salgueiros (Salix atrocinera).
As culturas agrícolas são maioritariamente de sequeiro, com relevo para o centeio e a batata, cultivados em rotação com pousios. Mais perto das aldeias e das suas casas, mantem-se uma cintura de culturas regadas (sobretudo para a horta familiar), seguida das pastagens permanentes para a produção de feno e apascentar o gado. Mais afastados das populações, os campos de cereal de sequeiro e as áreas incultas de matos (normalmente baldios), onde se pastoreiam os rebanhos dos vários tipos de gados (bovino, ovino e caprino).
A localização geográfica, a orografia, os solos, o clima e, o Homem, levaram a que se desenvolvessem importantes comunidades vegetais e animais, inclusive com espécies/populações ameaçadas, segundo o sistema da IUCN. Trata-se de paisagens humanizadas com uma forte identidade cultural das comunidades humanas, que foram sendo construídas numa relação estreita e inteligente com o meio natural: o sistema de exploração dos recursos faz-se de forma sustentável, resultando em elevados níveis de biodiversidade e de qualidade ambiental. Não é assim de estranhar estarem partes deste território abrangidos pelo único parque nacional, Parque Nacional da Peneda Gerês, pela Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurês, e pela Rede Natura 2000, ZEP serra do Gerês e sítio Peneda/Gerês. Quer pela extensão de cobertura destas tipologias, mais de 70% do Barroso, quer pela sua qualidade, revelam a enorme importância da região à escala nacional e internacional, no que respeita à conservação na natureza e da biodiversidade.
Culturalmente, as populações do Barroso desenvolveram e conservaram modos de organização social, práticas e rituais que as distinguem da maioria das populações do país, nos hábitos, na linguagem, nos valores, fruto quer das condições e isolamento geográfico, quer dos recursos naturais limitados, que obrigaram ao desenvolvimento de métodos de exploração e uso compatíveis com a sua sustentabilidade.
Um dos seus aspetos diferenciadores é a prevalência ainda forte de um sistema alimentar local, baseado em produtos e pratos locais, confecionados com o fumeiro, o pão, a batata, as couves e as leguminosas produzidas localmente.
O papel dos diferentes tipos da paisagem, serras, planaltos e vales e o papel histórico da agricultura na construção da paisagem, conduziu ao aparecimento de aldeias com uma identidade local e que atuam como vetores de produção de subjetividades locais.
Ficha Técnica do Sítio:
Mais informação e documentos de consulta:
Portuguese BARROSO Site GIAHS EN
Reconhecimento pela FAO: